Chico lê, vê e recomenda #63
Chega de Saudade, Filmes que se passam na mesma época, Infecção Sexualmente Transmissível, Pix > Criptomoeda, OTA, Livraria Saraiva, e o problema do jornalismo ouvir os dois lados...
Olá! Nas últimas semanas acabei o Chega de Saudade, do Ruy Castro, e a biografia O Raul que me contaram, do jornalista Tiago Bittencourt, sobre o Raulzito. Estou ensaiando alguns textos sobre isso, pensando como abordar esses dois assuntos que foram bem explorados por muita gente.
A ideia que muita gente tem é que o Chega de Saudade retrata a história da Bossa Nova. Errado. O livro mostra que há mais de uma Bossa Nova e que são dezenas, ou até centenas, de personagens envolvidas com o movimento. A obra na verdade retrata só um período da música brasileira, que no livro começa com o fox-trout Naná, de Orlando Silva, e termina com o disco que Tom Jobim gravou com o Frank Sinatra. Ruy Castro aponta que a Bossa Nova não termina ali, mas ele decide terminar o livro com histórias do disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim. O livro é sobre essa jornada que começou em Juazeiro, na Bahia, e, diga-se de passagem, na Tijuca com Dick-Farney Club.
E com isso em mente, vi que o ideal é reler tudo pra ver tentar melhor o que o Ruy Castro colocou nas páginas. Vou tentar desfiar um pouco algumas impressões sobre Chega de Saudade em outro texto. Mas adianto que por causa dele quero ler a biografia Nara Leão, a quem nunca dei muita bola.
O livro sobre o Raul é oooutra viagem… mas vamos pro boletim dessa semana!
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Filmes que se passam na mesma época
Parte 1
Parte 2
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'Peguei ISTs na minha 1ª vez. Recuperada, hoje me dedico à educação sexual' | Juliana Lemes em depoimento à Júlia Flores - Universa - link
Imagina seu pai descobrir que você se contaminou durante a primeira relação sexual? Foi traumático. Minha mãe, quando ouviu que eu poderia perder as trompas por causa da operação, ficou desesperada. Eu nem imaginava o que aquilo poderia significar.
A operação durou 4 horas. Fiquei acordada durante todo o procedimento, porque não pude tomar anestesia geral. Quando me mandaram para o quarto, tive que fazer exame de sífilis, HIV, hepatite B e C. Eles já sabiam que a infecção havia sido causada pela bactéria da gonorreia.
O exame da HIV demorou muito para ficar pronto, e aqueles foram dias horríveis para mim. Eu não tinha noção de que um soropositivo podia levar uma vida normal e saudável
Deu negativo para HIV e positivo para sífilis. Tive que tomar 6 injeções de benzetacil. Passei mais 20 dias internada, passando por baterias constantes de exames. O tratamento foi bom, mas o acolhimento médico foi péssimo. Mesmo sendo um hospital particular, os profissionais não acreditavam no que eu falava, as médicas duvidavam de mim. Repetiam perguntas como: 'Ele não era seu namorado? Então você transou com qualquer um? Certeza que você só saiu com ele? Nossa, você acabou com sua vida tendo uma IST (infecção sexualmente transmissível)'.
Depois que saí da primeira internação, após um mês, comecei a ter febre de novo. Não queria voltar para o hospital e ficava tomando remédio para esconder isso dos meus pais. Até que um dia, com 40 graus de febre, voltei a ser internada, porque tinha sobrado pus na minha cavidade pélvica. Foi horrível, fiquei deprimida e parei de comer. Naquela época, cheguei a pesar 46 kg.
Em menos de um ano, o Pix já fez mais que as criptomoedas em uma década | Guilherme Felitti - Manual do Usuário - link
O Segway é um caso emblemático de como o mercado de tecnologia, em alguns momentos, decide qual vai ser a próxima onda. De onde eles tiram isso? Você sabe. Nestes casos, a realidade se impõe e dá um tapa na cara de todo mundo que caiu na historinha. É uma história constante, a gente já falou de outras aqui no Tecnocracia, como o Second Life ou as compras pela TV. Se você estiver com dificuldades de pensar em outra tecnologia dentro dessa mesma dinâmica, não se preocupe: ela está passando na sua frente agora. É bem provável que você não só tenha ouvido falar nela, mas já a use com uma certa frequência.
Há uma década, o mercado financeiro global gasta suas energias confabulando sobre as eventuais aplicações revolucionárias de moedas nascidas digitalmente e geridas por redes compartilhadas. Há uma década todos nós aguentamos aquele papo repetitivo de que moedas como o bitcoin transformarão profundamente a forma como consumimos bens e serviços. Só precisa ter um pouco de paciência, está chegando. Passa o reveillon e lá vem mais análises de publicações e influenciadores financeiros jurando que o ano é esse, não tem como escapar. Há uma década estamos esperando o Godot do bitcoin aparecer e nos levar para uma nova realidade do dinheiro 100% digital. Exceto que nunca chega. Tal qual Vladimir e Estragon da clássica peça do Samuel Beckett, ficamos ali, entretidos em nossas misérias e nossas memórias, acalentando uma promessa que nunca se realiza.
Dentro da história do começo, se o bitcoin é o Segway, quem é a Tesla ou o Uber? Três letras: P, I, X. Lançado há menos de um ano pelo Banco Central, o Pix já se tornou mais relevante para a economia brasileira do que qualquer criptomoeda. Repetindo: em meses, o Pix já fez mais para a maior parte dos brasileiros que o bitcoin em uma década. Por quê? Essencialmente, porque o Pix se tornou uma ferramenta útil de pagamento. Você consegue comprar lapiseira, computador, aula de yoga, sessão de dominatrix, pão, pipoca e até carro usando o Pix. Até esmola o crescente número de miseráveis no Brasil recebe por Pix.
O que você compra com bitcoin? Na verdade, qual foi a última vez que você usou bitcoin ou qualquer moeda digital para comprar algo? Pode pensar, rememore das profundezas do cérebro. Bem provável que nunca, né? Taí uma diferença fundamental: o bitcoin e todas as criptomoedas que se seguiram não honram o sufixo que carregam no nome: o “coin”, moeda em inglês. Essencialmente, nenhuma delas é moeda, daquele tipo instituído no Egito Antigo como um meio comumente estabelecido de transferir valores entre pessoas e/ou empresas. Moeda exige o mínimo de estabilidade para ser útil. Na prática, porém, elas são bens especulativos, como a ação de uma varejista, por exemplo. Claro, você consegue investir em outras moedas estabelecidas para lucrar, mas nenhuma delas serve só para isso nem tem a volatilidade das criptomoedas.
Mais links
Ota: sempre MAD, mais que MAD; texto foda que relembra um pouco a importância do Ota para o mercado de gibis brasileiro | Márcio Jr. - MMarte Produções - link
A decadência da Saraiva: de maior livraria do Brasil à luta para não falir; Fortemente endividada, Saraiva fechou lojas, entrou em recuperação judicial e tentou, sem sucesso, vender operações | Emerson Alecrim - Technoblog - link
Mark Jacob, jornalista dos EUA, explica (em inglês) o porquê de considerar um erro a proposta de jornalistas darem voz “aos dois lados de uma matéria” quando um dos lados é antidemocrático ou só conspiratório; e ele acredita que isso pode ajudar a minar a nossa sociedade | Mark Jacob - Twitter - link
Estatística
Parece que o boletim pegou algum tranco e está indo além da média anterior de 50 leitores diários. Bacana! Pessoal gostou do conteúdo mas clicou pouco nos links dessa vez. Pessoal se interessou mesmo nos carimbos de Memes, no cartunista que remixa artes de gibis e a modelo quilombola com vestido feito de Capim Dourado.
Chico lê, vê e recomenda #63
Viva o Ota!