Chico lê, vê e recomenda #65
Jovem de Expressão, presidente mentindo sobre as vacinas contra Covid-19 e a AIDS, cachorrinho e uma vaca, Auxílio Brasil x Bolsa-Família, todos os dias origami de Grou, aumento da violência no Haiti
Semana passou rápido. Peguei pra ler o Criaturas Flamejantes do Nick Tosches, que conta algumas histórias dos primórdios do rock. É legal demais ver saber sobre os “depravados” bares Honky Tonky, que foram homenageados pela aquela banda de cover blues, os Rolling Stones.
Esse sábado fui com Maria Teresa (Thais se permitiu ir para uma aula de dança) para um viradão cultural do Jovem de Expressão, ameaçado de ter um dos seus espaços tomado pelo GDF. O programa que funciona em Ceilândia promove “o acesso à cultura, à tecnologia, educação, lazer e arte”. Caso queiram saber mais sobre política local do GDF, a questão é a seguinte:
A Administração Regional de Ceilândia quer retirar do Jovem de Expressão o Galpão Cultural, um espaço importantíssimo para as diversas atividades realizadas pela iniciativa.
O Galpão é um antigo posto policial abandonado que foi reformado com a ajuda de parceiros para dar lugar à arte e à cultura. Inaugurado em 2018, o espaço com 116 metros abriga sala de dança, teatro de bolso, estúdio audiovisual, a Galeria Risofloras, espaço para reuniões, palestras, aulas, cultos religiosos, terapias e várias outras atividades.
Querem colocar no lugar uma Farmácia de Alto Custo, cujo espaço atual está caindo aos pedaços e precisa de um novo lugar para ficar. Tanto o Galpão Cultural quanto a Farmácia de Alto Custo ficam no mesmo local: a Praça do Cidadão, em Ceilândia.
Ofereceram outros espaços para o Jovem de Expressão e a intenção do GDF pode até ser nobre, mas é de foder ver que deixaram a situação da Farmácia de Alto Custo chegar nesse ponto enquanto o GDF gasta os tubos sem licitação numa OS de saúde chamada Instituto Hospital de Base que, mês sim e outro mês também, é alvo de denúncias e operação policial por fraudes com dinheiro público.
A Praça do Cidadão é um local legal (longe do metrô e quase 40 minutos de carro daqui de casa) para um programa como Jovem de Expressão porque tem um parquinho bem cuidado para crianças e uma quadra de futebol. É cultura + esportes numa área que parece ser de referência para o ceilandense. Em certo momento, um garoto me perguntou se eu também “morava na (quadra) 20” e isso deve significar algo. Para não pagar de playboy morador da Asa Sul, fui vago e disse que tava só visitando.
Teresa se amarrou porque tinha parquinho e brincadeiras de rua, tipo Corre Cotia. Eu cheguei a participar de algumas rodadas de Corre Cotia e tomei um cansaço da molecada de 9 anos que tava brincando.
E ó que ando de bicicleta todos os dias.
Galeria
Se você não sabe, o presidente da República mandou a mentira que vacinas contra covid-19 facilitam a infecção por AIDS. A Laerte fez um cartum sobre o que todo mundo quer tanto ver.
A cara de “Podemos ficar com ela?”
Auxílio Brasil x Bolsa Família
Desgoverno de Bolsonaro destrói o melhor do Bolsa Família; Programa ganha nova versão sem regras claras, sob silêncio dos arautos da austeridade | Tereza Campello e Sandra Brandão - Folha de S. Paulo - link
Frente aos muitos resultados de sucesso do Bolsa Família, e diante do aumento dos níveis de pobreza e fome no Brasil, o mais razoável, prudente e eficaz seria ampliar os valores do benefício e o público atendido. Isto poderia ser feito de forma simples e segura, sem os riscos envolvidos em mudanças abruptas, mal planejadas e feitas no afogadilho às vésperas da eleição.
Mas é claro que não podemos esperar prudência e apego aos bons princípios da administração pública em qualquer medida do governo Bolsonaro.
Nestes três anos e meio de (des)governo, houve 10 anúncios sobre o fim do Bolsa Família. E a Medida Provisória 1061 não contém propostas que resultem de debates amadurecidos no governo e com a sociedade. Ao contrário, ela não disfarça seus objetivos exclusivamente eleitorais. Ela destrói exatamente as características que tornaram o Bolsa Família o maior, melhor e mais eficiente programa de transferência condicionada de renda do mundo, pois:
cria um conjunto de 9 tipos de benefícios diferentes, tornando mais oneroso e complexo o programa;
opta por centrar a atuação do Estado no aplicativo, abandonando o Cadastro Único como ferramenta de identificação e inclusão, base para uma atuação integral de combate à pobreza, com oferta de bens e serviços públicos;
desqualifica o processo humanizado de abordagem e acolhimento garantido no Sistema Único de Assistência Social, o SUAS;
centraliza todo o processo no governo federal, secundarizando a cooperação federativa.
A proposta enviada pelo governo Bolsonaro, além de frágil tecnicamente, é ainda ilegal. Estabelece um novo programa, sem definir o valor da linha de pobreza nem o valor dos benefícios, criando uma despesa continuada sem que se saiba o montante dela. Não previu, na proposta de lei orçamentária, receitas para fazer frente aos gastos com o programa.
Auxílio Brasil é um retrocesso que corrói rede de proteção social; Versão piorada do Bolsa Família, programa responsabiliza pessoas pela pobreza | Denise De Sordi - Folha de S. Paulo - link
O Auxílio Brasil é um retrocesso em todos os sentidos, pois (re) moraliza a discussão sobre a pobreza, reduzindo-a a uma dimensão da vida em sociedade que aparece individualizada, e traz de volta para a cena pública de ações socioassistenciais a possibilidade de transferência indireta de renda, o que significa o retorno dos programas de "vales" gás, leite e cestas básicas.
A resposta à pergunta sobre quem o retorno dos vales vai beneficiar ainda está em aberto, mas para termos um vislumbre de seus efeitos basta lembrar que esta era uma prática comum em fins dos anos 1980 e ao longo de 1990, sempre conectada a escândalos de desvios de verbas e falta de controle da qualidade dos itens distribuídos.
A gestão centralizada do Bolsa Família buscou combater esses problemas, atribuindo funções e metas específicas aos Estados e municípios para que a transferência de renda com condicionalidades pudesse ocorrer.
No Auxílio Brasil, as condicionalidades referentes à saúde e à educação, antes existentes no Bolsa Família com função de porta de acesso a esses direitos sociais, agora servem ao intuito de punir imediatamente as famílias atendidas.
No Bolsa Família, fatores como frequência escolar de crianças e adolescentes, vacinação e acompanhamento nutricional pelo SUS eram condições para o recebimento do benefício.
Caso a família deixasse de cumprir algumas dessas condições, havia a possibilidade de acompanhamento por meio de serviços socioassistenciais, que buscavam entender as causas do não cumprimento e evitar desligamentos punitivos do programa.
Já o Auxílio Brasil parece ser uma versão piorada, pois desconsidera a integração das ações socioassistenciais para a promoção de algum tipo de horizonte de cidadania, de tal modo que o acompanhamento das famílias parece incerto no novo programa.
Outra novidade apresentada pelo Auxílio Brasil quanto a este novo formato de condicionalidades: o beneficiário que participar de um curso de educação financeira poderá solicitar um empréstimo consignado de até 30% do valor que recebe, com o desconto direto no pagamento dos benefícios.
Pairam, contudo, incertezas a respeito desse ponto. Não há previsões sobre como, por quem, ou onde esse tipo de curso seria oferecido, o que inviabilizaria a própria possibilidade de consignação.
Soma-se a isso outro elemento um pouco mais imperceptível, mas que gera danos na forma como interpretamos a pobreza: uma certa percepção moral de que os sujeitos empobrecidos vivenciam essa condição material por não saberem gerir seus parcos orçamentos domésticos.
Como manobra do teto de gastos para viabilizar Auxílio Brasil pode deixar brasileiros mais pobres | BBC - link
Para viabilizar o pagamento de R$ 400 do Auxílio Brasil, ele pretende driblar o chamado "teto de gastos", uma regra de 2016 que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação do ano anterior.
Ela foi criada naquele ano pelo temor de um desastre fiscal — o governo vinha gastando mais do que podia e isso colocava em xeque a capacidade de o país arcar com suas dívidas.
É mais ou menos como um cidadão comum: quem não paga suas contas, fica com o nome "sujo" na praça.
Se o mercado percebe que a capacidade de pagamento do Brasil está comprometida, reage negativamente, levantando dúvidas sobre o que e como o governo vai fazer para honrar seus compromissos.
Um exemplo prático é de um investidor que tenha ações de empresas no Brasil. Diante de um futuro nada promissor para seus investimentos, ele tende a querer buscar outros países onde se sente mais seguro para ver seu dinheiro se multiplicar.
Agora, imagine vários investidores pensando o mesmo e, possivelmente, retirando seus recursos em massa — é o que economistas chamam de "fuga de capitais".
(…)
Nesta sexta-feira (22/10), até a conclusão desta reportagem, a situação não estava muito diferente — o dólar continua em forte alta e a bolsa, em queda.
Mas o agravamento da situação fiscal não só acarreta o aumento da inflação. Também provoca efeitos em cascata para o restante da economia.
Inflação mais alta força subida dos juros pelo Banco Central (BC), o que freia a atividade econômica e tem impacto no PIB (Produto Interno Bruto, a soma de riquezas produzidas por um país).
E economia mais enfraquecida gera queda de renda e desemprego.
Já a fuga de capitais gerada pela crise de confiança dos mercados tem impacto direto no dólar — quanto mais dólares saem do país, "mais cara" a moeda americana fica.
E o dólar mais valorizado afeta consideravelmente o preço de uma série de produtos, como gasolina, gás de cozinha e alimentos.
O que, em última instância, contribui para elevar ainda mais a inflação.
Mais links
Dezoito anos depois, 69% acham a saída do Bolsa Família; Entre as famílias pioneiras, maioria deixou de receber subsídio; ex-beneficiárias geram empregos | Vinícius Valfré - O Estado de S.Paulo - link
Diariamente, um diplomata japonês faz um origami de uma ave Grou e posta nas redes; orizuru é considerado um dos mais tradicionais origamis e simboliza a cura | por Hanako Montgomery - Vice - link
Gangue haitiana sequestra missionários dos EUA e exige US$ 1 milhão por cada um; A última onda de violência no Haiti é por causa da pobreza, livre circulação de armas na população (e grupos armados passaram a apoiar alguns políticos) e crescente milicialização da polícia | AlJazeera - link
Estatística
A última edição teve 61 leituras. Tirei do cadastro alguns assinantes que não liam o boletim pelo e-mail (mas por twitter ou zap) e, assim, aumentou a taxa de Open Rate via correio eletrônico.
Povo se interessou principalmente pela fala do Átila comparando a política de preservativos e a Covid-19 e também pela ética do uso de Inteligência Artificial (mais especificamente deepfakes) em produtos culturais, como filmes.