Chico lê, vê e recomenda #66
Códice Nahua, moralização em cima de gibis, Um Conto Sombrio dos Grimm, Saara mais quente, Dicionário Histórico do Português-BR, o padeiro do Titanic, Newgrange, Ringo e mais...
Essa semana indiquei um conteúdo ao Scott McCloud um dos autores de gibis que mais curto. O livro Desvendando os Quadrinhos ficou na cabeceira da minha cama por anos. Ele destrincha a linguagem dos gibis e hoje levo muitas coisas que aprendi no livro para fora dos gibis (outra vez falo sobre isso).
Lembro do dia que ganhei o livro do meu pai, que me deu numa data não-comemorativa apenas pelo fato de ter visto numa livraria e lembrado de mim.
Ó:
Quando passei um tempo nos EUA, matei um dia de trabalho (único dia que faltei) para ir numa exposição alternativa de histórias em quadrinhos. Vi num jornal que ele participaria, liguei pro trabalho e disse que estava doente (única vez na vida que fiz isso) e fui. Ganhei um autógrafo num gibi do Grant Morrison. Era o único papel disponível porque ele havia pedido o recorte de jornal que eu havia levado para que ele autografasse.
Então…
Marquei o Scott numa publicação sobre códices (espécie de precursos dos livros) dos Nahua, povos nativo-americanos. Esses códices se assemelhavam muito ao formato de histórias em quadrinhos modernas. Ele viu, curtiu e compartilhou com seguidores dele. Ganhei meu dia (e mais um pouco).
Sobre gibis
A polêmica do filho do Super-Homem se declarar bissexual está rendendo por conta de um jogador de volêi que não curtiu a ideia. Não acha que é coisa para criança.
O Leo Jaime deu uma boa opinião sobre o assunto:
Estão revisitando aquela polêmica do Crivella que quis censurar um gibi na bienal porque tinha uma imagem de dois personagens homens se beijando.
Essa semana uma mãe de um amiguinho da Maria Teresa nos alertou no grupo de zap sobre o desenho na Netflix Um Conto Sombrio dos Grimm. Elas no reencaminhou um alerta que recebeu sobre o desenho. Aparentemente uma mãe deixou o filho pequeno, sem acompanhamento, vendo Netflix e ele acabou se deparando com esse desenho, que, pelo que entendi, é baseado na versão original dos contos de fada dos irmãos Grimm.
A Disney transformou os contos de fada naquela coisa de encantamento, de fogos de artifício, de marketing sobre princesas. Mas os contos originais sobre fadas eram muito mais sinistros e envolviam práticas e histórias de religiões pagãs, que abordavam canibalismo, idas ao inferno e decapitação por exemplo. É só lembrar que João e Maria é uma história de dois irmãos que invadem a casa de uma senhora que mora na floresta e no final jogam ela no fogo (ou no caldeirão fervente, não lembro). Havia versões eróticas, contadas em “bares” (e não pelos Grimm), dessas histórias que hoje a Disney embala em seus produtos.
Eu entendi que esse desenho é baseado em contos de fada dos Grimm, pré-Disney. Então tem decapitação - mas sem sangue e as cabeças são costuradas logo depois com fios de ouro. Decapitação, nesse caso, é instrumento narrativo e não algo tipo “programa do Datena”. Até tentei explicar sobre isso mas a mãe desse coleguinha ficou horrorizada. Lembrando que na Bíblia Deus manda Abraão sacrificar o seu filho favorito - e esse teste de fé absurdo foi um dos ganchos do livro Caim, do José Saramago.
Uma coisa óbvia (que ela concordou) é:
1) Não deixe seu filho e sua filha sozinho ou sozinha vendo desenho.
2) Existe a opção de filtrar conteúdo assim na Netflix.
Uma vez peguei um livro sobre conto de fadas na biblioteca pública e havia uma história em que a bruxa morria na fogueira. Eu e Thais pulamos essa história porque MT era bem pequena.
Enfim…
Aparentemente querem recriar o Comics Code Authority, criado em 1954 e terminou em 2011. O Comics Code foi criado numa onda moralizante nos EUA porque uma galera acusava os gibis de desvirtuarem a juventude. O humor caótico da revista MAD foi um das principais responsáveis por começar a desidratar esse Comics Code e os gibis começarem a ter liberdade autoral novamente.
Há histeria cada vez maior sobre cultura pop, geralmente oriunda de cristãos que apoiam o presidente que fala de arma e trabalha contra a vacina (e a vida) o tempo inteiro. Esse é um assunto que inevitavelmente voltarei de tempos em tempos…
PS:
E na real até tenho um problema com o que fizeram com o filho do Super-Homem. Ele era moleque, amigo do filho do Batman e havia uma dinâmica incrível com possíveis histórias que poderiam destoar das histórias dos pais. Mas resolveram levar ele para o futuro, onde ele passou por diversas aventuras e voltou um jovem adulto.
E aí o filho do Batman perdeu um dos melhores amigos e os gibis perderam a possibilidade de ter tanta história legal entre os dois…
O calor no deserto do Saara está ficando pior
Na Mauritânia, país no norte da África cuja maior parte do território está no deserto do Saara, o calor sempre fez parte do cotidiano da população. Mas agora, as temperaturas estão se tornando insuportáveis.
As mudanças climáticas atingiram em cheio Sidi, um mineiro de sal da cidade de Zuerate, que decide embarcar em um dos trens mais longos do mundo rumo a Nuadibu, no litoral. A composição de 3 km é feita para transportar cargas, mas às vezes, também leva pessoas – Sidi enfrentou a viagem de 20 horas em um vagão descoberto, em cima de uma montanha de minério de ferro. Na nova cidade, ele espera conseguir vender o sal e alguns animais que conseguiu levar consigo para financiar um novo começo.
Na cidade de Chinguetti, a 400 km de Zuerate, o agricultor de tâmaras Mohammed Lemine luta para salvar sua casa que, ano após ano, vai sendo engolida pela areia. O município já chegou a ter 20 mil habitantes, mas hoje sobraram apenas cerca de mil moradores. Se a cidade, que é tombada pela Unesco, for coberta pelas areias do Saara, patrimônios culturais como rochas com pinturas pré-históricas e uma biblioteca em cujo acervo estão manuscritos do Corão da Idade Média podem desaparecer.
Neste documentário da série “Vida a 50ºC”, o diretor Gavin Searle mostra os impactos humanos do calor extremo na Mauritânia, um dos países mais atingidos pelas mudanças climáticas no mundo.
Saiba Mais
Dicionário Histórico do Português do Brasil é uma viagem no tempo | Reinaldo José Lopes - Darwin e Deus - Folha de S. Paulo - link
Outro post velocíssimo pra avisar os gentis leitores deste blog sobre a chegada de uma pequena preciosidade à internet. Falo do Dicionário Histórico do Português do Brasil, organizado por pesquisadores da Unesp de Araraquara e disponível gratuitamente para consulta online.
O trabalho usou como base textos escritos em solo brasileiro nos séculos 16, 17 e 18 para traçar um retrato fascinante de como era o nosso idioma em séculos passados. Estão registradas, por exemplo, as muitas grafias alternativas de cada palavra (padronização ortográfica é um negócio bem mais recente do que a gente costuma imaginar).
Veja que coisa fofa está definição de “tatu” (variantes ortográficas: “tatú” e “tatû”) neste texto de 1618, da autoria de Ambrósio Fernandes Brandão:
Tatu é um bicho que se vê pintado nos mapas pela sua estranheza e feição de que é composto, porque anda armado de umas couraças, à maneira das que nós usamos, com não serem pouco fortes, e debaixo de semelhante armadura agasalham o seu pequeno corpo.
Para procurar verbetes por palavra, basta cadastrar seu e-mail.
O padeiro que sobreviveu ao Titanic; o cara ajudou a manter várias pessoas vivas e, aparentemente, sobreviveu nas águas congelantes porque tinha bebido uísque pra caramba, o que ajudou a combater efeitos da hipotermia | Aventuras na História - link
De acordo com os relatos dos últimos barcos que partiram, Joughin foi o último homem a ser visto no Titanic, na ponta superior do navio, que nessa altura já estava quase inclinado de maneira horizontal. Quando não pôde se estabilizar, desceu como se o convés fosse um escorregador e pulou na água por conta própria.
Até ser descoberto, passou três horas no Oceano Atlântico, com a temperatura da água a -2°C. A temperatura e o tempo planando seria suficiente para levar alguém a óbito, porém, seu corpo tinha tanto álcool etílico circulando em seu organismo que, ao causar a perda de calor interno, pôde se manter estável com a sensação de aquecimento em sua superfície da pele, superior à temperatura ambiente.
Agarrado pelo cozinheiro Isaac Maynard, que o reconheceu, não conseguiu entrar no bote que foi avistado, pois estava lotado, mas o segundo oficial Charles Lightoller autorizou Joughin a se apoiar no barco para ser levado até que fosse visto outro barco que pudesse o abrigar. Pouco depois, foi resgatado pelo RMS Carpathia.
Mais links
Mais antiga que as pirâmides e Stonehenge; conheça a tumba de Newgrange; Localizada na Irlanda, construção possui tantos mistérios quanto qualquer outro monumento | Fabio Previdelli - Aventuras na História - link
O porquê de Ringo Starr ser um dos melhores bateristas do mundo | The Beatles - link
O acervo de fotografias do Arquivo Nacional sobre a ditadura brasileira está disponibilizado como domínio púbico no Wikimedia Commons | Caroline Bauer - link (dica da Lia e do Marcelo)
Projeto artístico deixa Centro de Belo Horizonte iluminado e colorido; minha prima Andréia participou do ato (e deu entrevista sobre) | Bom Dia Minas - link