Chico lê, vê e recomenda #69
Volta no RJ, brincando com perspectiva, avós, livrarias pequenas e a Black Friday, mais ação coletiva na escola, Merlin, Biblioteca digital Tênebra, maratonista contra o crime e orçamento secreto
Essa semana que passou fomos ao casamento do primo Felipe e a, agora esposa, Anandi no Rio de Janeiro. Depois de alguma hesitação, fomos. Felipe foi espertamente bem insistente e ainda lançou mão da carta de convidar MT para ser daminha de honra.
Tá bem. A gente vai.
A Anandi é venezuelana de nascimento, mas a família migrou há um tempo para os EUA (já na época do Chavez). Veio ao Brasil completar alguns estudos, os dois se conheceram e o resto vocês já sabem.
De certa forma, foi a primeira visita ao Rio desde o início da pandemia. Até arriscamos ir nas Festas de final de ano de 2020 (sempre de máscara e tudo mais), mas ficamos na casa dos meus sogros em Jacarepaguá, sem quase sair para a rua - com a exceção de uma tentativa de visita a um shopping, lotado. Dessa vez saí um pouco mais. Encontrei amigos na Tijuca e dei uma volta rápida no Centro da cidade, meu lugar favorito. Vi mais gente em uma tarde de percurso Taquara-Tijuca-Centro que nos mais de 4 anos somados que vivo em Brasília. É gente demais nas ruas. Enquanto Brasília só vejo muita gente na rodoviária, meu pequeno caos favorito da cidade (Teresa também curtiu a Rodô).
Para os cariocas digo que Brasília é uma grande Bairro Peixoto, aquele pequeno enclave em Copacabana voltado para dentro, com gabarito limitado e pensado em convivência de vizinhança. Bairro Peixoto, como Brasília, tem gabarito limitado para edifícios e tem um urbanismo pensado como espécie de respiro para o caos urbano ao redor. O bucólico Grajaú também pode ser uma referência.
E eu ainda trabalho de home office. Vou de bicicleta com Teresa para a escolinha.
É um contraste tremendo com o exercício de paciência que é o trânsito carioca. Mas meus sogros moram numa casa numa vila/condomínio na Taquara-quase-Boiuna. O morro que fica em frente é todo de floresta, sem favela e nenhuma (até onde sei ocupação irregular). Então também é um respiro diante do estresse que o Rio de Janeiro oferece. Consigo passear de motoca na rua do condomínio com MT e a prima dela, sem problemas. E a noite é fria, quase Alto da Boa Vista.
E aquele Rio de Janeiro não convidativo tem ferramentas para tentar te dobrar. Fui levar o vestido de daminha da MT para lavar e em menos de 10 minutos de conversa com a atendente, fiquei sabendo que uma filha dela tem Barboza com Z no sobrenome e a outra tem Barbosa com S - e a conversa surgiu porque tenho Barbosa no sobrenome. Em Brasília uma conversa dessas seria muito difícil, quase impossível de ocorrer. Seria uma transação comercial simples e direta, sem ninguém tentando tirar proveito de ninguém, diga-se de passagem.
Essa familiaridade do carioca (assim como do mineiro) é maravilhosa. A vontade é de dizer: “Tá bom! Eu aguento o custo de vida alto, a violência e o trânsito merda porque agora eu sei os sobrenomes da filha da atendente da lavanderia”. E estou falando sério. Esse cada um no seu quadrado do brasiliense cansa bem às vezes.
Encontrei amigos que não via há dois anos e foi bom. Ouvimos música, botamos alguns papos em dia (mas não conseguimos jogar RPG). Um dos papos favoritos da noite foi falar do advogado porta-de-cadeia do presidente da República. Ciro, amigo meu advogado, chamou atenção pra comicidade dos rolês aleatórios do Wassef. O cara ora é “surpreendido” com um foragido da justiça (o Queiroz) na sua casa no interior de São Paulo, ora é acusado de racismo, ora se tranca no banheiro feminino do Senado e ora é perseguido, ameaçado de morte por ter tentado chegar junto de uma mulher casada. Meu amigo, fica quieto um pouco…
E a falta de intimidade do Queiroz com o Wassef?
Foi um papo divertido. Mas não consegui encontrar com meu afilhado Miguel e a irmã Lara. Nem com outros amigos e familiares.
No dia seguinte fomos ao casamento. Saímos cedo e chegamos pontualmente e antes de todo mundo. A celebração foi naquela casa Santa Teresa, que, como esposa apontou, foi o cenário de gravação daquele DVD do Natiruts que volta e meia ela bota pra tocar aqui em casa. Era um dia chuvoso, mas ainda era uma baita de uma vista: Cristo Redentor e bondinho do Pão-de-Açúcar. Todos estavam vacinados. Até levei máscara e o plano era usá-la. Mas ia ser o único e larguei de mão.
Vieram os parentes de Minas e a família e amigos e amigas venezuelanas e dos EUA da Anandi. O pai, educadíssimo, tinha o venezuelaníssimo nome de… Mauro. Uma amiga da família se chamava Maria Helena. Outro senhor se chamava alguma-coisa-Silva. Mas seriam brasileiros esses venezuelanos?
Esposa investiu no vinho (e um drink). Eu fui de cerveja e drinks, mas sempre moderando com comes e refris.
Os venezuelanos são gente boa pacas. Uma parte considerável da festa pisou na jaca. Teresa era a única criança da festa mas se divertiu bem com a prima Lara (ou “Lala”) e os primos. Ela mandou bem na caminhadinha de dama-de-honra (chorando de nervoso/assustada no final) e uma das moças do cerimonial brincou que queria contratar ela para ser daminha em outros casamentos. Foi uma pequena esbórnia como há muito estávamos necessitados - desde o início da gestação da MT. Coloca mais de 4 anos aí.
Segue uma foto (desfocada por conta da garoa que começava a cair) de Thais com MT:
E uma foto minha com os recém-casados:
O casamento se encerrou com uma oração, virada ao Cristo Redentor, puxada por um dos convidados da noiva. Mas antes disso, a mãe do noivo conseguiu pegar o buquê.
No dia seguinte fomos ao Bioparque (novo Zoológico). Está bem legal, com conceitos novos de convivência com bichos (a parte dos pássaros é fenomenal), mas diferente do que pensava que seria. Ainda há muito do Zoológico antigo, com aquelas jaulas pequenas para o tamanho dos bichos. Um urso estava estressadíssimo andando de um lado para o outro, igual ao que grandes mamíferos faziam antes dessa mega-reforma. Tá legal demais, mas tem que melhorar.
A área dos passaros:
Depois, para finalizar, um aperitivo para matar a saudade:
E vamos encerrando por aqui… outra hora coloco minhas observações sobre o Rio de Janeiro e tudo mais.
Galeria
Fotógrafo Hugo Suíssas brinca com a perspectiva em imagens. Veja mais fotos no instagram do rapaz. Dica do Boing Boing.
Saiba Mais
Por que, em português, pai e mãe são "pais", mas avô e avó são "avós"? | Raimundo Welton Braga - Quora - link
Sua pergunta aponta para um paralelismo morfológico perfeito, que só deve existir no sânscrito ou no esperanto. Você raciocina assim: se de pai e mãe temos o plural genérico (para ambos) “país”; se de padre e madre temos o plural genérico (para ambos) “padres”; se de father e mother temos o plural genérico (para ambos) “parents”; então, logicamente, de avô e avó deveríamos ter o plural genérico uma palavra etimologicamente oriunda do elemento masculino, que deveria ser, então, “avôs”.
Ocorre, entretanto, que os processos de formação de palavras em língua portuguesa são complexos. Derivação sufixal, derivação prefixal, derivação parassintética, hibridismo, composição por justaposição, composição por aglutinação, palavras primitivas, etc., todos esses recursos de produção de palavras obedecem, às vezes, a injunções de ordem fonológica capazes de alterar qualquer lógica semântica ou mesmo morfológica.
Apenas uma pergunta final: qual a palavra que tem melhor eufonia: “avôs” ou “avós”?
Gostei dessa pergunta, ela tem um chamativo para uma resposta mais apropriada e pertinente, que envolve um estudo mais aprofundado de gramática histórica e filologia, o qual, no momento, eu me acho incapaz de empreender. Perdoe-me a resposta incompleta.
Como as livrarias estão se preparando para a Black Friday diante de gigantes como a Amazon?; Com descontos amplos, gigantes do setor capturam clientes das pequenas livrarias, que não têm condições de concorrer | Caroline Oliveira - Brasil de Fato - link
Nesse cenário, os proprietários das livras estão criando estratégias para driblar os desafios da Black Friday e garantir, pelo menos, um faturamento semelhante aos outros meses. Beto Ribeiro negociou com algumas editoras, por exemplo, melhores preços para esse período, inclusive em cima de livros que já foram comercializados na tradicional Feira de Livros da USP, aproveitando os descontos praticados neste evento.
Mônica Carvalho, por sua vez, além de negociar descontos com as editoras, procurou vender livros que estão esgotados em lojas online e fugir daqueles que estão sendo mais comercializados no ambiente virtual.
“Eu fiz essa busca na internet para poder escolher aqui do meu acervo alguns livros que realmente estão difíceis de encontrar em outras livrarias e coloquei com 20% de desconto”, afirma Carvalho. “Busquei livros que são diferenciados. A gente faz um trabalho muito forte aqui, de curadoria mesmo, para oferecer para o cliente um produto diferente do que ele encontraria numa Amazon.”
Outra estratégia é investir na transformação das livrarias em espaços culturais, que ofereçam mais do que a comercialização de livros. Neste mês, por exemplo, Beto Ribeiro investiu em uma apresentação de jazz em frente à Livraria Simples.
No espaço da Livraria da Tarde tem um café onde é possível sentar e fazer rodas de leitura. “Um espaço de conexão, um espaço de valorização do livro, de encontro”, como afirmou Mônica Carvalho. “Vamos aproveitar a nossa força que está na loja física, porque aqui a gente consegue oferecer para o cliente uma gama de opções de livros que a internet não oferece, e ele vai se encantando.”
Na Janela Livraria, Letícia Bosisio e sua sócia, Martha Ribas, investem nos lançamentos e bate-papos. “Nossa estratégia é o encontro, o bate-papo com o nosso livreiro, é a troca, é a pausa.”
Em Minas Gerais, na Laura Livros, Wilson Ferreira investe nos seminários sobre autores e autoras e nas dicas de livros.
Contra o fracasso escolar, menos heroísmo, mais ação coletiva na escola | Rodrigo Ratier - Ecoa - link
"Como assim?", espantou-se o garoto. "A pessoa nem me conhece e sabe que eu sou bom? Não é possível." O reforço na autoestima não era por acaso. Integrava uma ação de acolhimento da equipe escolar, etapa de um projeto pedagógico mais amplo centrado no projeto de vida do estudante. "Ele ou aprende ou reaprende a sonhar. Tudo começa pelo sonho", explica a coordenadora Laurice Marinho Sardemberg. "A escola despertou a confiança em mim", confirma Endryo.
O caso faz parte da série Trajetórias Escolares e exemplifica bem o espírito da produção conjunta entre Unicef e Canal Futura. As histórias de adolescentes e jovens em vulnerabilidade que, mesmo diante dos obstáculos, continuam os estudos não são contadas pela ótica da motivação individual. Essa estratégia narrativa é figurinha fácil nos "casos inspiradores" da educação, que quase sempre se apoiam em trajetórias que romantizam a realidade. Com raras exceções, não servem como exemplos generalizáveis no combate ao fracasso escolar — materializado em problemas como dificuldades de aprendizagem, repetência, evasão e abandono.
Se há "heróis" na série, eles são menos tangíveis: a gestão escolar atenta, as políticas públicas bem desenhadas, as mudanças curriculares que aproximam o ensino dos interesses dos alunos. "Há um conjunto de experiências Brasil afora que merece ser retratado", afirma Julia Ribeiro, oficial de Educação do Unicef no Brasil. "Elas se dedicam a um perfil de estudante 'invisível', negro, pobre e periférico, que passa pela escola sem aprender e acaba abandonando."
Mais links
Biblioteca digital Tênebra é primeira a reunir contos obscuros brasileiros | Lidia Zuin - Tab UOL - link
O mago Merlin: a trajetória do filho do diabo até se tornar o conselheiro do rei Arthur (em inglês) | Blogs.bl.uk - link
Eu corria da Justiça e agora corro maratonas; reportagem (em inglês) mostra a história de um ex-criminoso que abandonou o crime e encontrou na prática de corridas uma forma de se manter sóbrio e longe de crimes | Vice News - link
'Orçamento Secreto' é prática que não pode existir em democracia, diz professor; No UOL News, o professor Wallace Corbo, da FGV Direito do Rio, fala sobre o sigilo dos gastos com cartão corporativo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e defende que o chamado 'Orçamento Secreto' é uma negação da democracia já no seu nome: "orçamento deve ser público" | Uol - link
Como é difícil ser pontual no Rio. E agora quando fui tb me lembrei como é bom virar amiga de infância da vendedora . Coisas do Rio... :)