Chico lê, vê e recomenda #71
'O único peixe que vive no esgoto é a garça', As políticas de Clima de 2019 a 2021 e as perspectivas para o ano eleitoral, Prouni, Rio Pinheiros, Como era a vida antes da internet?, Grilagem e mais...
Atrasei o boletim dessa semana porque não havia preparado um texto pessoal. Vou me valer de material de arquivo. Esses dias recuperei um livro digital que havia publicado com fotos urbanas que gostava de tirar do Rio de Janeiro. Segue a seguri.
Galeria
O único peixe que vive no esgoto é a garça
O nome deste livro remete a uma pixação que vi certa vez na parede de concreto de um rio canalizado e transformado em esgoto perto de onde morei quase a vida toda, na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. “O único peixe que vive no esgoto é a garça”, dizia o grafite. Com o tempo, passei a dúvidar se realmente existiu esse grafite ou se imaginei essa frase. Ninguém que conheço lembra dela. Só sei que nunca consegui esquecer.
O rio cruza o final da Alzira Brandão, rua famosa por conta do telão que exibe os jogos da seleção brasileira masculina de futebol durante a Copa do Mundo. Como outras vias de água da cidade, ele se transformou em canal de escoamento de esgoto e não deveria mais abrigar vida nenhuma.
Mas a feira livre que acontece semanalmente na rua, agracia o curso de água (e de cocô, xixi e outras coisas) com restos dos peixes que não foram adquiridos pelos moradores locais. E as garças voam para o canal com intuito de se alimentar com o alimento descartado em rios mortos. Como os pescadores cariocas e fluminenses e os botos que insistem em subsistir das águas poluídas da Baía da Guanabara, essas garças são umas sobreviventes. São elas que ilustram a capa desse livro.
Esta publicação reúne algumas das fotos que tirei em diversas localidades do Rio de Janeiro. Editei, arrumei as fotos. Agora publico em mídia digital para que vejam a luz do mundo.
Acesse o livro em versão de publicação digital aqui ou em versão de site aqui.
Conjunturas & Riscos: As políticas de Clima de 2019 a 2021 e as perspectivas para o ano eleitoral
Com Eduardo Viola (IEA-USP, FGV e UnB), Erika Berenguer (Oxford e Lancaster) e Fabio Alperowitch (FAMA Investimentos). Mediação de Natalie Untestell (Instituto Talanoa/Política Por Inteiro). Política por Inteiro tem um dos boletins mais fodas que você vai encontrar por aí.
Sobre as mudanças no Prouni
Basicamente um programa que deveria atender estudante de escola pública se transforma no Bolsa-Empresário da Educação Superior. Informações Rogerio da Veiga, Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, diretor da ANESP - link
1. Quando ele foi criado, o objetivo era condicionar as isenções fiscais à oferta de bolsas INTEGRAIS para jovens de escola pública.
2. As Instituições de Ensino Superior (IES) que trabalharam fortemente para ter bolsas parciais. Pense como a faculdade: o professor já está lá, a cadeira, o prédio, a biblioteca. Depois de pagar esse custo fixo, praticamente toda receita a mais é lucro.
3. Então, elas conseguiram a opção de converter aproximadamente metade das bolsas integrais em parciais (1 vaga integral para cada 10,7 matrículas ou 1 bolsa integral para cada 22 matrículas e outra parte em bolsa parcial).
4. As IES, no entanto, têm dificuldades de preencher essas bolsas parciais. Por que? Uma dica: não é pela restrição de renda.
5. A renda para conseguir uma bolsa PARCIAL do ProUni é 3 salários mínimos por pessoa, isso daria uma renda de R$ 2.994,00 por pessoa, ou R$ 11.976,00 por mês para uma família com quatro pessoas em 2019. 90% dos brasileiros têm renda inferior a esse valor.
6. Vou repetir: a regra de renda do ProUni para bolsa parcial exclui apenas os 10% mais ricos do Brasil. Por que as IES não conseguem preencher as bolsas parciais? Porque a restrição não é a renda, mas a obrigatoriedade de ter estudado na escola pública.
7. A regra de renda Bolsa Integral também não é um grande gargalo: 75% dos brasileiros têm renda inferior a 1,5 salário mínimo por pessoa. Como o Brasil é muito desigual, esse recorte é razoável, desde que com foco na escola pública, como é a regra hoje.
8. A Medida Provisória que amplia o ProUni para escolas privadas acaba com a focalização do programa.
9. Pela lógica empresarial, o que vai acontecer: a conversão de bolsas integrais em bolsas parciais que serão ocupadas por jovens de escolas privadas. Dado que um aluno a mais custa pouco, 50% de mensalidade é lucro.
10. O aluno de escola pública que não tem condições de pagar terá menos bolsas integrais para escolher, com uma disputa ainda maior.
11. A nova regra piora - e muito - para o estudante de escola pública, que está na parte inferior do limite de renda do programa e vai substituir jovens pobres de escola pública que estudam de graça por jovens não tão pobres de escolas privadas que pagam metade do preço.
12. É um excelente negócio para as Instituições de Ensino Superior, que vão aumentar suas receitas e aumentar sua isenção. E vai ser mais um gasto público que em vez de reduzir a desigualdade, vai aumentar desigualdade e perpetuá-la.
13. Esse é também um bom exemplo do nó de nossa desigualdade e também da frustração dessa classe mediana (pessoas que estão na mediana da renda, não é classe média) ou que estão dentre os 50% (R$ 870 por pessoa) e os 75% (R$ 1.516 por pessoa) mais pobres.
14. Uma família com 4 pessoas teria uma renda variando entre R$ 3.480 e R$ 6.064. Essa pessoa não se acha rica, embora esteja acima da metade mais rica, faz um esforço grande para colocar seu filho na escola privada e vê as chances de seus filhos se reduzirem.
Saiba mais
Rio Pinheiros: O renascimento de um rio | Youtube - link
A TV Cultura exibiu o documentário inédito Rio Pinheiros, produzido pelo departamento de jornalismo da emissora, que mostra como o Projeto do Novo Rio Pinheiros está despoluindo o rio e revitalizando suas margens.
O repórter Eduardo Campos visitou as obras das novas estações de tratamento, entrevistou especialistas e percorreu de bicicleta toda a extensão da ciclovia às margens do Rio Pinheiros.
No documentário, ambientalistas, arquitetos, urbanistas e ativistas da cidade opinam sobre a nova iniciativa para a limpeza das águas e a revitalização das Marginais. Além de novas ciclovias, a antiga Usina de Traição, já privatizada, será transformada na Usina São Paulo e se tornará um grande centro de entretenimento e gastronomia, que abrigará o maior cinema ao ar livre da América Latina.
Valter Caldana é professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Como era a vida antes da internet? O catálogo das 100 coisas que perdemos; A jornalista Pamela Paul, do ‘The New York Times’, publica um livro com uma centena de sensações, objetos e momentos que desapareceram com a tecnologia | Jordi Pérez Colomé - El País - link
Paul acha que quem tem menos de 30 anos será mais “cético em seu consumo futuro” e “dirá que não precisa de algo ou que não vale a pena a esse custo”. Um dos capítulos se intitula Desinibição, e Paul teme seu desaparecimento entre os jovens: “Tenho muita compaixão por esta geração por vários motivos”, diz. Reflete sobre como teria sido sua adolescência se tivesse o medo constante de que qualquer erro, deslize ou indiscrição fosse lembrado pela internet para sempre. “Quando eu era adolescente, era muito insegura, se eu tivesse feito algo incrivelmente estúpido e me tornado um meme, teria sido assustador”, diz. “Viver sabendo que tudo o que você pode fazer, bobo, embaraçoso, estúpido, arriscado, perigoso para sua reputação pode ser 100 vezes maior do que você jamais imaginou e se perpetuar, é aterrador”, acrescenta. Esse medo pode chegar a modificar o seu comportamento cotidiano: “As pessoas dizem que estão arriscando menos são mais seguras, claro que são, imagine a ameaça de algo assim acontecer”.
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Por exemplo, quando você descobre que alguém não muito próximo morreu. Mas aí logo esquece: “Muitas vezes eu percebo que esqueci completamente que o tio de tal pessoa tinha morrido porque aconteceu há seis horas e depois disso 30 outras coisas ocorreram. É uma chicotada constante de atenção emocional. É esgotador. Temos tantas reações emocionais porque há tanto a que reagir que é difícil a gente se recuperar no final do dia”, afirma.
Mas, como era antes? Fica claro que era mais silencioso, mas, era melhor? Quem se lembra da sensação de não carregar um celular no bolso?
Mais links
Quatro casos demonstram na prática a relação entre grilagem e desmatamento no Matopiba; Pesquisa aponta violações na região do Matopiba, que estão fazendo o cerrado sumir e ameaçam comunidades tradicionais | Nara Lacerda - Brasil de Fato - link
Carlos Souza Jr., geógrafo do Imazon, mostra como a inteligência artificial pode ajudar a proteger florestas | Fabrício Marques e Sarah Caravieri - Revista Pesquisa Fapesp - link
Áudio documentário sobre o Noel Rosa | Rádio Batuta - link