Chico lê, vê e recomenda #75
Origem muçulmana da Estátua da Liberdade, Mineração em Terras Indígenas, a Guerra de Putin, Louis Armstrong e Johnny, africanos em 1492 e Encanto
Nas últimas duas semanas não enviei o boletim por motivos de Carnaval (viagem para Goiás) e pós-carnaval (aquela preguicinha). Nas últimas semanas terminei dois livros: a biografia da Rita Lee e Desde que o Samba é Samba (uma ficção inspirada nos primórdios da 1a escola de samba, a Deixa Falar). Peguei para ler um livro sobre Poliomelite (que está ameaçando a voltar depois de ser quase erradicada por conta da boa campanha de vacinação no mundo), um outro sobre a economia na era Dilma (Como Matar a Borboleta Azul, da Mônica de Bolle) e a biografia da Hebe - a biografia da Hebe é uma sequencia quase natural da bio da Rita Lee. A Rita fala bastante da Hebe no livro dela. Outra vez comento esses livros que terminei de ler.
Segue!
Galeria
Sabia que a Estátua da Liberdade originalmente seria uma estátua de uma mulher muçulmana que ficaria no Canal de Suez, no Egito? Só que os egitos rejeitaram a proposta do escultor francês Frédéric-Auguste Bartholdi. E ele adaptou a proposta para os franceses, que ofereceram a Estátua aos EUA, em comemoração ao centenário da declaração de independência daquele país. Saiba mais nesse link (com texto em inglês) e nessa revista do Smithsonian.
Textinhos
PL 191 é mais uma 'cloroquina’ desse governo A deputada Joenia Wapichana falou à Agência Pública sobre o inconstitucional projeto de lei 191 que quer abrir as terras indígenas (sem consultar os povos ali residentes) para mineração e atividade energética. Veja a entrevista completa no link. Num momento de crise, governo quer usar a máquina do Estado contra os povos indígenas quando há recursos suficientes para fertilizantes fora das terras protegidas por lei.
Para a deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), a mineração deve ser mantida longe das terras indígenas, e propostas como o Projeto de Lei 191/2020, de autoria do Executivo sob o governo Bolsonaro, nem deveriam estar em discussão. Em seu mandato de estreia, a primeira indígena eleita para o Congresso brasileiro descreve o dia a dia na Esplanada como de “luta e sofrimento”, mas garante que, mesmo em caso de derrota, os projetos que ameaçam o meio ambiente e os direitos das populações tradicionais “não passam sem uma boa resistência”.
A mais nova batalha de Joenia no plenário gira em torno do PL 191/2020, que pleiteia regularizar a mineração e a geração de energia elétrica nas terras indígenas sem a garantia de que os habitantes dos territórios ancestrais tenham poder de decidir sobre o futuro de suas comunidades. Para a deputada e advogada, que apresentou um requerimento para a suspensão da tramitação do projeto, o PL “tem vícios formais desde o início” e mostra a fixação do presidente com o tema. “O grande sonho de Bolsonaro é ser um garimpeiro dentro de terra indígena, ele não esconde isso de ninguém”, afirma.
Com o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o projeto foi lembrado por Jair Bolsonaro, com a desculpa de que podem faltar fertilizantes a base de potássio para o agronegócio brasileiro — a maior parte das importações vem da Rússia. “Nossa segurança alimentar e o agronegócio (Economia) exigem de nós, Executivo e Legislativo, medidas que nos permitam a não dependência externa de algo que temos em abundância”, tuitou o presidente no dia 2 de março.
Porém, levantamento do Estadão mostrou que a maior parte das minas de potássio no estado do Amazonas ficam fora das terras indígenas, ao contrário do que o presidente sugere. “Ele quer aproveitar essa oportunidade, quando está todo mundo prestando atenção na guerra e achando que vai faltar isso ou aquilo, para tentar justificar uma possível falta [de fertilizantes] e ter um ganchinho, pegar carona para passar o trator em cima de nossos direitos”, argumenta Joenia. Nesta quarta (9), o plenário da Câmara dos Deputados decidiu que o PL irá tramitar em regime de urgência e o presidente da Casa, Arthur Lira, anunciou a criação de um grupo de trabalho para debater o projeto de lei, que deve ser votado em plenário até 14 de abril.
Dois errados não fazem um certo Por mais que Putin acerte na crítica ao intervencionismo dos EUA e Europa nos últimos anos em países da África, Oriente Médio, Ásia, é errada a invasão à Ucrânia - que corre risco de virar uma nova grande Aleppo (da Síria), com batalhas campais eternas que trariam insegurança política pra toda Europa. Com o agravante de ter usinas nucleares.
Acompanho os debates por aí, vejo duas correntes: quem fala que a OTAN errou em convidar a Ucrânia e vejo europeus residentes de ex-repúblicas soviéticas falando que a Rússia fez o que a Rússia faz: age como potência imperialista (nos moldes de outros países europeus e dos EUA). Essa galera fala que era questão de tempo até a Rússia fazer algo como está fazendo na Ucrânia: “nunca foi paranóia!”.
Ó o exemplo:
Esse papo da imagem acima se refere a um medo de ex-repúblicas soviéticas serem novamente anexada por Moscou. O pesquisador da Europa Oriente, Klaus Richter, fala que para cidadãos de países como a Moldôvia, Lituânia e Estônia (além da Ucrânia), o risco de “serem riscados do mapa” é algo que está sempre presente. E ele ainda fala: “Para os países entre a Alemanha e a Rússia, o século XX significou agressão política e militar, perda de soberania, fome causada pelo homem, deportações para a Sibéria, ‘limpeza étnica’ e expropriação de terras”. É uma paranoia digna de judeus sionistas, mas que estava em banho-maria porque se acreditava que éramos melhores (pelo menos em território europeu).
Nesse sentido, o discurso do embaixador do Quênia na ONU sobre a guerra do Putin atingiu em cheio o assunto. Putin fala que invadiu a Ucrânia para proteger irmãos russos. O embaixador lembra que as fronteiras dos países da África são artificiais - criadas, em sua maioria, por europeus. Com fronteiras artificiais, irmãos étnicos ficaram em países diferentes. E se os africanos fossem seguir a lógica do Putin, a África seria uma guerra eterna. Ó:
Sobre o ponto de OTAN expandiu as fronteiras mais do que foi combinado com a Rússia: isso não existe. Esse “combinado” é o equivalente internacional a combinar com um carioca de se encontrar de novo. Mandam um “Vamos se ver sim! Com certeza” e você nunca mais vai ver a pessoa de novo. O que houve foram conversas prelminares, com intenções colocadas pela Rússia para que a OTAN não se expandisse. Mas nunca houve acordo formal nenhum, nem mesmo da boca pra fora. Pelo menos foi o que me falou o professor de Política Internacional Tanguy, criador do podcast Petit Journal, no Twitter. O que o Putin quer é forçar esse acordo AGORA e pela força.
Mas há quem diga que esse convite à integrar à OTAN e ocidentalização da Europa Oriental é um erro. É caso desse professor de Política Social da Universidade de Chicago.
E a OTAN, que tava sem inimigo formal e sem direção, conseguiu todos os motivos possíveis para se reorganizar. Essa notícia aponta que após a invasão à Ucrânia, a Geórgia e a Moldávia oficializaram pedido para ingressar à OTAN. Antes não havia pressa.
Em tempos, essa edição do boletim ObjETHOS analisa a cobertura do jornalismo brasileiro sobre a guerra do Putin.
Mais links
Música. Se liga no Louis Armstrong cantando Blue Yodell n. 9 com o Johnny Cash | Concert a Day | What a Feeling - link
O que os africanos estavam fazendo no ano de 1492? Cristóvão Colombo chegou à terras americanas em 1492, aparentemente inspirado por navegadores africanos que tentavam chegar do outro lado do Atlântico. É o que diz esse vídeo aqui (em inglês).
Que tal falar sobre o Bruno? O filme Encanto é hit em todo mundo e, obviamente aqui em casa. É só ter uma saída de carro ou de bicicleta que a pequena aqui em casa pede pra tocar as suas músicas. É muito chiclete, nível de acordar e ir dormir com as canções na cabeça. Tenho várias opiniões sobre o filme (que deixo pra outro texto). Enquanto não escrevo nada, acompanho as notícias via Screen Rant, que aprofunda bem algumas questões abordadas na peça.