Chico lê, vê e recomenda #76
Essa edição do boletim é um pouco diferente, com alguns poucos temas interligados: América Latina, Agronegócio e desigualdade.
Essa edição do boletim é um pouco diferente no formato. Tem alguns temas interligados: América Latina, Agronegócio e desigualdade. Segue!
Se o Brasil fosse um país sério, a bancada religiosa seria antiarmamentista e a bancada do agornegócio seria ambientalista. E a bancada religiosa se preocuparia com o aumento da fome no País. Não é o caso.
Governo Bolsonaro age pra acelerar a transformação do Brasil numa república das bananas, da soja, do milho… e ignora todo o resto. Ele replica no agronegócio a péssima política do PT de “campeões nacionais”, e dessa trabalhando para ligar o “conservadorismo” ao agro brasileiro, que de liberal não tem nada.
Faz isso operando na mesma lógica que operou com o exército enquanto deputado: elogios e troca de favores para ele poder ganhar o seu. Quer criar no Brasil diversas United Fruit Company, que dominavam o cenário político da América Central e só resultou em mais desigualdade social (enquanto garantia exportação de frutas para os EUA). Prevejo que Governador Valadares não vai perder o posto de “capital da imigração do Brasil” para alguma cidade do Mato Grosso ou Mato Grosso do Sul.
E o nosso agro pisou no acelerador. Recentemente virou notícia o fato de que a bancada ruralista quer tirar o Mato Grosso da área da Amazônia Legal. Essa matéria do Joio e o Trigo mostra o racismo em “cidades da soja” como Sorriso e Nova Mutum. Como aponta a matéria, em Sorriso, “a vegetação amazônica desapareceu e em seu lugar foram plantadas palmeiras imperiais”. Como contraponto, essa matéria da Fapesp (dia do Platônia, do Rafa Spoladores) aponta que pesquisadores estão “propondo 49 espécies nativas para reforçar a arborização de cidades do sudeste do Pará” para substituir árvores “invasoras” como o ipê.
Se o custo de vida está caro, não é só por conta da pandemia, petróleo e guerra. É pelo esvaziamento de políticas que garantiam comida no prato do brasileiro e florestas em pé.
Galeria
Na última edição a imagem era de uma pré-Estátua da Liberdade e agora trago essa estátua da liberdade indígena do clipe This is not America, do cantor Residente (que também é/era do grupo Calle 13). O vídeo, que conversa diretamente com o This is America, do Childish Gambino, é cheio de sinalizações a simbolismos fortes da América Latina como o líder indígena revolucionaro peruano Túpac Amaru II, Lolita Lebron, Víctor Jara, execução de estudantes mexicanos, Zé Pequeno, Copa do Mundo do Brasil e muito mais. Nesse fio do twitter tem todas as referências do clipe (que é um tanto violento).
Talvez, assim como a música do Gambino trouxe para o “mundo pop” a discussão do racismo e Black Lives Matters, essa canção do Residente faz a mesma coisa pelo “mundo latino”, cada vez mais violento e desigual. Se o filme Encanto (e todos os dias aqui em casa falamos do Bruno) celebra a diversidade e felicidade de ser latino, This is not America levanta outras discussões.
Clipping
Alheio a inflação e fome, governo e agro querem fazer das frutas a nova frente de exportação; Sem políticas públicas para garantir consumo interno, gestão Bolsonaro faz parceria com agronegócio em busca da China. Campanha publicitária molda um Brasil “tipo exportação” com gente saudável, “como surfistas” | Por Mariana Costa - O Joio e o Trigo - link
As frutas seguem um caminho semelhante ao que vem acontecendo com outros alimentos no Brasil: os picos de exportação coincidem com aumento da inflação e o desmonte de políticas públicas que poderiam amortecer os efeitos da crise sobre a população mais vulnerável.
É o caso do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), esvaziado no primeiro ano do governo Bolsonaro, como já mostramos no Joio. O PAA atuava na compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e na distribuição para a população mais ameaçada pela fome.
Entre 2020 e 2021, o preço das frutas no Brasil acumulou alta de 29,3%, muito acima da inflação geral do período, que foi de 15%. A disparada nos preços incluiu até mesmo as frutas que faziam parte do dia a dia do brasileiro, como mamão (+80,7%), banana prata (+42%) e laranja pera (+30,2%).
Como a redução histórica de recursos destinados à segurança alimentar afeta a população brasileira; Programa de Aquisição de Alimentos tem recursos reduzidos em 77,3% ao longo de seis anos, ganha fôlego na pandemia, mas tem execução inexpressiva em 2021. E programa de acesso à água fica sem operação em 2021 | Por Schirlei Alves - O Joio e o Trigo - link
A extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), em setembro de 2019, é apontada pelas organizações ligadas ao tema como uma das principais atuações de desmonte das políticas alimentares. Instituído em 1993, ainda no governo Itamar Franco e com uma pausa durante o governo Fernando Henrique, o Consea tinha a tarefa de articular as três instâncias de governo (municipal, estadual e federal), os representantes da sociedade civil e as instituições que trabalhavam com a segurança alimentar. Era o Consea que monitorava o andamento e a prestação de contas dos programas alimentares e fazia a conexão direta com o presidente da República.
“Havia uma agenda organizada por trás da segurança alimentar e nutricional que estava ancorada em parte nesses programas, em parte no Consea e em uma aliança com o Ministério Público na defesa dos povos e comunidades tradicionais e no questionamento da agenda fundiária. O jeito de você matar esse espaço e esse questionamento da indústria de alimentos é eliminando o Consea e deixando morrer de inanição essas outras coisas”, avaliou uma especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental e servidora de carreira que atuou nas políticas de segurança alimentar, mas que prefere não se identificar por medo de sofrer perseguição.
A especialista ouvida pela reportagem lembra que os programas já começaram a perder orçamento no governo Dilma (2011-2016) por conta da crise fiscal, mas enfraqueceram ainda mais nas gestões seguintes (Temer e Bolsonaro) com a desestruturação de ministérios e secretarias que pensavam estratégias de combate à fome.
Como o Brasil conseguiu destruir sua própria indústria de fertilizantes; Nos últimos 25 anos, decisões tributárias duvidosas, escândalos de corrupção e mudanças da Petrobras produziram, juntos, o quadro de crescente dependência do país de fertilizantes produzidos no exterior, deixando o agronegócio brasileiro – um setor responsável por seguidos superávits comerciais e por 30% do PIB – vulnerável à escalada dos preços internacionais e diante da incerteza do fornecimento no futuro. | Por Pedro Canário - Bloomberg Línea - link
(…)
Dois anos depois, já no governo de Jair Bolsonaro (PL) e sob a presidência do general Silva e Luna, a companhia anunciou que as fábricas do Nordeste seriam arrendadas à Proquigel, do Grupo Unigel. O valor, R$ 117 milhões por ano, é o equivalente a 1% da expectativa de receita das unidades por ano, segundo as contas do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro).
A justificativa da Petrobras para o arrendamento era que as unidades davam prejuízo. Em 2017, a fábrica da Bahia apresentou déficit de R$ 200 milhões. A de Sergipe, de R$ 600 milhões. A unidade do Paraná continua “hibernada”.
Já Castellano acredita que essas decisões foram tomadas por causa da política de paridade. Como os preços passaram a ser praticados em dólar e conforme o mercado internacional, afirma, os insumos necessários para a fabricação de fertilizantes nas três unidades que estavam em funcionamento (Sergipe, Bahia e Paraná) ficaram muito caros. Aliado a isso, havia uma política de tributo zero para os produtos importados, conta o petroleiro.
“Quem importava, os grandes players do agronegócio, deu pouca importância à situação, porque ficou mais barato importar do que comprar o produto fabricado aqui. Sempre dissemos que isso precisava ser rediscutido, porque era uma questão geopolítica, de segurança alimentar, e não apenas econômica, de custos. No final, optamos pela pior solução: destruir o parque já instalado e passar a depender de outros países”, afirma.
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