Chico lê, vê e recomenda #77
Federação Russa, Iacuto, possível nova viagem do Mamãe Falei, preço do Trigo e o risco global, África e a guerra na Ucrânia, 'legalização' do Maduro, Telegram, Ipanema e Val d'Aran
Segue mais uma edição do boletim. Peguei vários temas relacionados à guerra na Ucrânia e à Rússia. Tava caprichando bem e até achei que ia conseguir uma boa divulgação quando fui ao banheiro, abri o Twitter e vi a notícia do #Tapagate no Oscar. Todo um trabalho bacaninha que vai ficar em 2o plano por conta das discussões sobre o tapa do Will Smith.
É a vida…
Vamos que vamos! Segue mais uma edição do boletim, que em breve pode ir para uma casa nova.
Galeria
Você não conhece a Federação Russa.
Há um tempinho atrás, antes da guerra na Ucrânia, o algoritmo do YouTube me indicou vídeos sobre “como era ser asiático russo na China” (ficou ouvindo vários vídeos enquanto trabalho). Russo não é só aquele povo branco pra caceta. Há vários tipos de russos, daí o nome Federação Russa.
Essa moça da foto (que peguei na Wikipedia) é do povo Iacuto, da República da Iacútia (ou Sakha). É na Iacutia que fica a cidade mais fria do mundo: Oymyakon, que chega a registrar frios de -52 graus Celsius. O povo Iacuto tem o fenotipo que se aproxima do chinês, japonês e coreano.
Agora… Imagina o Mamãe Falei PIRANDO NA TARA de pegar uma europeia E asiática ao mesmo tempo? Vai colocar como meta de nova viagem turística. Mas talvez ele espere algum colapso da Rússia pra entrar no esquema “são fáceis porque são pobres”.
Enfim, esse vídeo explica um pouco “Por que a Rússia esconde Países dentro de suas bordas” e fala dos diversos países integrantes da Federação Russa. Há também o Bascotostão, a Chuváchia, Tartaristão e sei lá mais quantos povos. Enquanto os europeus ocidentais se expandiam para outros continentes e dominavam povos na América e África (e Ásia), os russos iam para o leste e dominavam outros povos.
Na época achei bacana o fato de existir a Rússia, mas o reconhecimento de outras nações, outros povos e outras identidades. Até pensei que seria um modelo de civilização bacana - imagina um Brasil reconhecendo os Guarani Kaiowá como uma nação, Estado e ou República própria, integrante da Federação brasileira? Não viveriam em reservas mas em terrítórios próprios por direito.
Não sei o grau de autonomia dessas Repúblicas dentro da Federação Russa, mas acho uma proposta bacana.
Textinhos
A Guerra na Ucrânia vai aumentar ‘risco Global’ por conta do aumento de preços do trigo, diz cientista. Como Ucrânia e Rússia são dois dos maiores exportadores de trigo no mundo, Dr. Yaneer Bar-Yam, presidente do New England Complex Systems Institute de Cambridge, aponta que guerra vai afetar a safra e aumentar o preço do grão.
Em entrevista para a Vice, ele aponta que em 2008, com a crise no mercado imobiliário dos EUA, especuladores migraram para o mercado de commodities, o que influenciou o valor da cesta-básica em alguns países e levou aos levantes conhecidos como Primavera Árabe. Da mesma forma, com redução na oferta do gas e petróleo russo, os EUA vão depender mais do uso de milho, produzido internamente, para produção de etanol - o que vai reduzir a quantidade de milho exportando e gerar aumento no preço desse alimento. Então a guerra na Ucrânia vai gerar novo levantes por comida em países vulneráveis. Da última vez que isso ocorreu, movimentos extremistas como o Estado Islâmico ganharam força. A solução? Uma ação global para garantir estoques de alimentos como “colchão social” contra o extremismo. Na Somália, a Guerra aliada à uma seca histórica, gerou uma crise humanitária no País (veja fotos no link).
Ao mesmo tempo, acompanho pela Al Jazeera as consequencias da guerra fora do eixo Europeu. A rede de notícias, baseada no Catar, publicou, por exemplo, um artigo de um Palestino que compara a ocupação russa na Ucrânia e a ocupação israelense em território palestino.
Esse articulista de Nairobi elenca razões para o que parece ser uma África “lavando às mãos” em relação ao conflito europeu. Aponto aqui uma delas: o Quênia importa 90% de seu trigo da Ucrânia e Rússia. Ao mesmo tempo, ele também aponta para a hipocrisia de africanos que criticam a política de “portas abertas” da Europa para refugiados ucranianos (enquanto fecha as portas para africanos) pois os mesmos africanos também fecham as portas para refugiados de outras nações do Continente.
Já esse professor da Universidade do Catar diz que resumir Putin como um “Homem Louco” não vai evitar guerras futuras. Ele lembra que as civilizações ocidentais resumiram Saddam Hussein também como “Louco” e Gaddafi como “insano” e o resultado foi o aumento da instabilidade desses países e crises migratórias. E esse comentarista da África do Sul conclama os líderes africanos a condenarem o “expansionismo” russo.
E voltando para o eixo europeu, mas sem focar nas “potências”, a Al Jazeera fez um documentário sobre a volta da obrigatoriedade do alistamento militar em países como a Lituânia.
Análises de comentaristas e apontam que a guerra na Ucrânia acelerou (ou quer acelerar) a mudança do eixo mundial para além da aliança EUA-Europa. Mas vão colocar o que no lugar? Rússia e China são abertamente anti-LGBTQIA+ e minorias. E os EUA também está caminhando perigosamente para essa direção, com Estados “conservadores” correndo pra apoiar leis antiaborto, na qual autorizam familiares de estupradores processarem vítimas de estupro que abortarem fetos que foram gerados por um estupro ou que façam aborto a partir de 6 semanas de gravidez. Há propostas de leis que proibem pessoas trans de praticarem esportes na “modalidade de sexo” da qual se identificam. Já a Flórida começou a falar abertamente para que os pais não levem filhos e filhas para serem vacinados contra a Covid-19.
E falando dos EUA… essa matéria do Daily Mail aponta que o filho do Biden ajudou a conseguir financiamento para uma fábrica de “armas químicas” na Ucrânia (a confirmar essa matéria com outras fontes).
A ‘legalização’ do Maduro. A ação dos EUA de isolar a Rússia do “mundo” levou a administração Biden a conversar com o regime de Maduro, isolado por sanções econômicas por conta da perseguição a opositores políticos. Esse artigo do Center for Estrategic & International Studies (CSIS) aponta o complicado cenário da cama de gato que é a relação EUA-Venezuela. Ao mesmo tempo que as ações de Biden minam uma suposta autoridade de Juan Guaidó (opositor de Maduro) e minam o “viés ambientalmente responsável” que atual administração quer alcançar, o articulista aponta que, caso haja um entendimento da Venezuela caminhar para uma “democratização”, seria uma das maiores mudanças recentes na América Latina.
O artigo aponta para um conceito que eu não conhecia: a Doutrina Kirkpatrick, baseada no ensaio "Ditaduras e Padrões Duplos", que justificaria as intervenções militares e políticas dos EUA na América Latina como forma de estabilizar a região contra a instabilidade de regimes comunistas.
O ensaio compara “autocracias tradicionais” à regimes comunistas:
“[Autocratas tradicionais] não perturbam os habituais modos de trabalho e lazer, locais habituais de residência, padrões habituais de relações familiares e pessoais. Como as misérias da vida tradicional são familiares, são suportáveis para as pessoas comuns que, crescendo na sociedade, aprendem a lidar com elas. [...] [Regimes comunistas revolucionários] reivindicam jurisdição sobre toda a vida da sociedade e exigem mudanças que violam tanto valores e hábitos internalizados que os habitantes fogem às dezenas de milhares.
Dessa forma, uma transição dos países da América Latina, de “autocracias tradicionais” para Democracias Liberais teria que se moderada em prol de uma estabilidade regional. Daí o apoio dos EUA à manutenção no poder de oligarquias locais conservadoras ante os “rebeldes comunistas”.
Com base nesses conceitos, o articulista do CSIS aponta que a Venezuela não seria um País apto a passar sobre o crivo da Doutrina Kirkpatrick porque não é uma Maduro não é um autocrata “tradicional” ou “ideológico” mas alguém só interessado em se aliar a outras autrocracias mundo afora para se manter no poder. E os venezuelanos opositores não topariam trocar sua luta contra Maduro por conta da rinha dos EUA contra Putin.
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Melhor parte, o início. Com o tapagate tirando seu brilho... rsrs